A BELEZA DA ORAÇÃO CONSISTE NO FACTO DE QUE O ABRIR DO NOSSO CORAÇÃO É TÃO NATURAL COMO O DESABROCHAR DE UMA FLOR. PARA QUE UMA FLOR ABRA E FLORESÇA BASTA ESPERAR; PORTANTO, SE ESPERARMOS, SE NOS AQUIETARMOS E ASSIM PERMANECERMOS QUIETOS E SILENCIOSOS, O NOSSO CORAÇÃO ESTARÁ INEVITAVELMENTE ABERTO E O ESPÍRITO BROTARÁ DENTRO DO NOSSO SER. FOI PARA ESTE FIM QUE FOMOS CRIADOS. JONH MAIN, OSB (1926-1982)

sábado, abril 29, 2006

Mensagem da Páscoa de Dom Laurence Freeman, OSB

Quinta-Feira Santa. Hoje iniciamos o período sagrado. Como de costume, gostaria de lhes enviar uma breve mensagem, como sinal de que estamos todos unidos, em comunidade, nesses próximos dias, através do silêncio da nossa meditação, com Cristo e no profundo mistério que ele abriu por nós, pelo qual estamos, uma vez mais, prestes a relembrar e a celebrar.
Celebramos a Páscoa com uma visão escatológica. Até onde posso entendê-lo, isto significa que visualizamos o caminho que traçamos, à luz do destino. O final já aconteceu e enviou-nos uma mensagem, de esperança e aceitação, que transforma a maneira como entendemos a nossa própria jornada. O que queremos realmente dizer quando repetimos que "Jesus conquistou a morte"? Obviamente, a morte ainda por aí continua. Leia os jornais, olhe para a nossa comunidade ou para seu próprio círculo familiar e de amizades. Sabemos que todos nós morreremos. Conquistar a morte não quer dizer que ela deixa de ser parte da vida, mas, que foi quebrado o poder negativo que ela um dia teve sobre nós. Os psicólogos afirmam que o medo da morte ainda é a nossa mais forte repressão, que controla a nossa cultura e sociedade. O medo é a verdadeira causa da violência.
A Ressurreição de Jesus foi um evento histórico: um exclusivo e inesperado novo final para a velha história de nascimento, vida e morte. A partir do entardecer do "primeiro dia da semana" e, o período de tempo que se seguiu, Jesus "apareceu" aos seus discípulos. Ele deixou-os perplexos, não apenas por essa experiência de presença real, mas, também pela total aceitação não-julgadora que ele lhes demonstrou: àqueles que lhe falharam tanto no final. Ele mostrou-lhes ter absorvido a morte. Ele não era um fantasma, mas, completamente humano. Ele não estava no limbo, mas, verdadeiramente consigo mesmo, connosco, com o Pai.
Na Quinta-Feira revemos a última Ceia, e a dádiva misteriosa da Eucaristia, à luz da sua experiência da Ressurreição. Compreendemos que o significado do que aconteceu no seu terrível abandono, sofrimento e morte não foi uma punição que ele sofreu por nós. Foi uma auto-doação de proporções inimagináveis. No Sábado experimentamos novamente a aridez do quotidiano sem eventos, que frequentemente põe à prova o nosso espírito e esperança, até o limite, ainda que possamos juntos não nos deixar enganar à luz da Ressurreição, até o "terceiro dia", quando o tempo tiver amadurecido. Na Vigília "recapitulamos" todo o tempo. Condensamos toda a história do cosmos e da humanidade e, nossa própria participação individual nela, sob a única luz. O fogo da Páscoa remete-nos de volta à alvorada da criação e da humanidade. A luz do Cristo Ressuscitado que se eleva nos nossos corações, como a silenciosa estrela da manhã, que nos mostra o seu significado.
A história não é de Criação-Queda-Redenção-Paraíso, nessa ordem. A luz da Ressurreição mostra-nos que criação e redenção são uma só. Isto significa que estamos na "nova criação" do Cristo, porque a Ressurreição é o cumprimento da acção continuada da Criação, através da qual tudo surgiu do nada.
"Por que estão com medo?" Jesus pergunta aos seus discípulos perplexos. Ainda assim, o medo agarra-se a nós. Vós podeis livrar-se dele temporariamente através da argumentação, então, ele volta à tona por intermédio dos nossos mais velhos condicionamentos. Cada vez que celebramos a Páscoa, temos a oportunidade de penetrar nesses velhos padrões e, dissolvê-los mais completamente. Para sermos mais livres. Tal como Pe. John ensinava, também, cada vez que meditamos encontramos o mistério pascal. Assim que o medo desaparece, também desaparece a tristeza. Portanto: Feliz Páscoa!

Com muito amor,
Laurence