A BELEZA DA ORAÇÃO CONSISTE NO FACTO DE QUE O ABRIR DO NOSSO CORAÇÃO É TÃO NATURAL COMO O DESABROCHAR DE UMA FLOR. PARA QUE UMA FLOR ABRA E FLORESÇA BASTA ESPERAR; PORTANTO, SE ESPERARMOS, SE NOS AQUIETARMOS E ASSIM PERMANECERMOS QUIETOS E SILENCIOSOS, O NOSSO CORAÇÃO ESTARÁ INEVITAVELMENTE ABERTO E O ESPÍRITO BROTARÁ DENTRO DO NOSSO SER. FOI PARA ESTE FIM QUE FOMOS CRIADOS. JONH MAIN, OSB (1926-1982)

sábado, abril 29, 2006

A Meditação Cristã


Em 1975 John Main OSB (1926-1989) criou o primeiro Centro de Meditação Cristã no seu mosteiro em Londres. Ele tinha recuperado uma mera tradição de silêncio, oração contemplativa vinda dos ensinamentos dos primeiros monges cristãos, os Padres do Deserto. Depressa se apercebeu de que esta tradição era importante nos dias de hoje, e não apenas para os monges, encarando-a como uma via para a renovação da Igreja e do mundo.
A meditação é simples e prática. Trata-se mais de experiência do que de teoria: é mais uma forma de estar do que de pensar. Pelo seu efeito na nossa vida, é mais do que um método de oração; é uma forma de vida, uma forma de viver cada situação a partir do mais profundo do nosso Ser.
Para os cristãos, o ponto fulcral da meditação é Cristo. Quer isto dizer que ela se centra na oração de Cristo, que brota continuamente do Espírito Santo nas profundezas de cada ser humano. Mais profundo que todas a ideias de Deus é o próprio Deus. Mais profunda que a imaginação é a realidade de Deus. Assim, através desta forma pura de oração, todos os pensamentos, palavras e imagens ficam para trás a fim de ‘nos concentrarmos antes de tudo o mais, no Reino de Deus’. Deste modo descentramo-nos do nosso Ser egoísta para que morra e renasça um novo verdadeiro Ser em Cristo.

“A meditação é a dimensão que actualmente falta à vida cristã. Não exclui outros tipos de oração e, de facto, aprofunda o respeito pelos sacramentos e pela Sagrada Escritura.” LAURENCE FREEMAN, OSB
“Em silêncio, reconhece que Eu sou Deus”
A meditação implica o silenciar da mente e do corpo. Apesar de todas as distracções do mundo moderno, este silêncio é perfeitamente possível para as pessoas de hoje. Mas para alcançar esta quietude, temos de dar tempo ao esforço que é necessário para se atingir o silêncio.
Para aí chegar recitamos uma frase curta, ou palavra-oração, que é hoje vulgarmente conhecida por mantra. O mantra é apenas uma fórmula de fé para focar a nossa atenção para além de nós próprios, um método que nos afasta dos nossos pensamentos e preocupações. A prática da meditação desenvolve assim a harmonia do corpo, da mente e do espírito.

Eis o objectivo que nos é proposto na Sagrada Escritura: “Em silêncio, reconhece que Eu sou Deus”. Na meditação afastamo-nos da nossa própria consciência. Não estamos a pensar em Deus nem a falar com Ele. Procuramos fazer algo incomensuravelmente melhor: procuramos estar com Deus, estar na mente de Cristo. Vamos para além do pensamento, mesmo de pensamentos espirituais. A meditação não está ligada ao pensamento mas ao Ser. O objectivo da oração cristã consiste em permitir que a presença misteriosa e silenciosa de Deus, que já está dentro de nós, se torne na realidade que dá significado, forma e finalidade a tudo o que somos e fazemos. Assim, a primeira tarefa da meditação consiste em conduzir a nossa mente distraída à concentração na quietude, no silêncio e na simplicidade.