"A irrealidade do medo" John Main OSB

Leitura da Semana 19/11/2006

Na medida em que lemos os Evangelhos vemos que há uma escolha diante de nós. A alternativa é entre o amor e o medo. O medo é destrutivo e corrosivo, seja ele medo de doença, guerra ou fome, seja medo do sobrenatural, de deuses raivosos e vingativos que precisam ser aplacados com rituais compulsivos. A diferença entre o mundo bárbaro e o civilizado é que a barbárie prospera no medo. A civilização prospera no amor que impulsiona o vigor, a energia, a vitalidade e a criatividade. A energia bárbara é negativa; seu principal impulso é destrutivo e sua principal arte é a guerra. A principal arte da vida cristã é a paz.
O Nosso compromisso com a meditação é nossa abertura para a paz do amor redentor de Deus, nossa total aceitação dele, nossa renúncia à auto fixação e nosso compromisso com a entrega de si. Quando dizemos o mantra não podemos ficar a pensar em nós e é, precisamente a auto-obsessão que nos reconduz à fantasia. Assim, quando percebemos que paramos de dizer o mantra, quando nossa mente nos distrai, devemos simplesmente retornar a ele, e com ele, para a realidade. Isto é, retornar para Deus presente em nossos corações. Em outras palavras, retornamos para uma fé que nos impulsiona para além de nós mesmos, para Deus. Todos nós sabemos que esta auto-transcendência é nossa salvação. Fundamentalmente, todos nós sabemos que precisamos encontrá-la no silêncio de nossos corações. As alternativas são, realidade ou ilusão.
A função do caminho da fantasia é a de nos afastar dos medos e ansiedades que sentimos, criando uma realidade alternativa. Mas o que acontece é que o medo é enterrado mais fundo... A função do caminho do Evangelho, que é na verdade o único caminho, é a de expelir o medo, de arrancá-lo com raízes para que possamos ir cada vez mais fundo dentro de um coração sem medo e lá encontrar o amor mais profundo. Assim, o maior presente que podemos compartilhar com o mundo é nossa experiência de realidade.