A BELEZA DA ORAÇÃO CONSISTE NO FACTO DE QUE O ABRIR DO NOSSO CORAÇÃO É TÃO NATURAL COMO O DESABROCHAR DE UMA FLOR. PARA QUE UMA FLOR ABRA E FLORESÇA BASTA ESPERAR; PORTANTO, SE ESPERARMOS, SE NOS AQUIETARMOS E ASSIM PERMANECERMOS QUIETOS E SILENCIOSOS, O NOSSO CORAÇÃO ESTARÁ INEVITAVELMENTE ABERTO E O ESPÍRITO BROTARÁ DENTRO DO NOSSO SER. FOI PARA ESTE FIM QUE FOMOS CRIADOS. JONH MAIN, OSB (1926-1982)

sexta-feira, abril 06, 2007

Ùltima sessão do curso meditação Cristã

Chamo-me Luisa, sou casada com o Manel, que abordou o 2º tema, sobre o Jonh Main,e pediram-me para vos falar sobre a roda de oração, mas antes, se não se importam, vou começar por lhes contar como foi a nossa 1ª abordagem à Meditação Cristã. Estávamos em Londres vindos de um encontro do Renovamento Carismático em Walsingham. Era Domingo e estávamos a combinar a que missa iríamos assistir. Alguém sugeriu que fossemos ao Brompton Oratory onde a missa era rezada e cantada em latim, quando a Teresa Rocha, aqui presente, sugeriu irmos ali mesmo ao pé ao Centro de Meditação Cristã… E lá fomos completamente às cegas sem imaginar ao que íamos. Chegámos a uma casa tipicamente inglesa, com uma entrada pequena com uma escada à direita aonde nos aguardava uma senhora com uma cara sorridente que nos perguntou de onde vínhamos, nos pediu para tirarmos os sapatos e como faltavam uns minutos para começar a missa nos ofereceu umas bolachinhas. Entrámos então para a sala com uma “bow window” que dava para um pequeno jardim, onde estavam dispostas várias cadeiras almofadas no chão e alguns banquinhos de madeira. Quem ia celebrar era o Father Laurence Freeman que por sua vez estava sentado no chão de pernas cruzadas com uma mesinha baixa a servir de altar. Respirava-se uma grande simplicidade e harmonia. Logo a seguir à distribuição da Comunhão, o Father Laurence explicou muito brevemente que se iriam fazer 20 minutos de meditação pedindo-nos para nos manter sentados confortavelmente tentando manter as costas bem direitas, respirar calmamente e repetindo sem parar uma palavra –mantra, que ele aconselhava que fosse MARANATHA, e nos mantivéssemos em total silêncio tentando não pensar em nada. E assim foi! Fiquei, ficámos entusiasmadíssimos e seduzidos com esta forma de oração, e ao chegarmos a Lisboa começamos a tentar fazê-la individualmente a reunir uma vez por semana em casa da Teresa Rocha


Já lá vão 15 anos. E temo-nos mantido fieis a este encontro semanal, por onde já passou muita gente e do qual já se formaram dois grupos aqui em Lisboa.

Depois desta introdução vamos ao tema de hoje que, como já foi dito, é a “.Roda de Oração”.
Começo por isso, por ler a” Alegoria da Roda ”, de Laurence Freeman, que foi a base de inspiração deste texto. (Quem quiser no fim, pode levar uma fótócópia).

“A oração é como uma grande roda.
Uma roda que encaminha toda a nossa vida para Deus.
Os raios da roda representam diferentes tipos de oração.
Representam, por exemplo, a Eucaristia, os outros sacramentos, a oração bíblica, a oração de petição e de intercessão, a oração carismática, as devoções, o rosário, etc. Sendo nós diferentes uns dos outros, preferimos tipos de oração diferente. Também rezamos de maneiras diferentes, em momentos diferentes da vida, dependente de como nos sentimos.
Mas o que unifica todas estas diferentes formas de oração é o estarem centradas no eixo – em Cristo. Os raios da roda são apenas formas ou expressões de oração que convergem para o centro: esse eixo é a oração do próprio Jesus.
No centro da roda, no eixo de oração, há quietude / tranquilidade / paragem. Sem essa quietude no centro não pode haver movimento, nem crescimento na roda e na vida.
A Meditação é a demanda desse centro, exprime o desejo de encontrar, a busca em nos identificar e unir com o Espírito que nos habita.”

O objectivo da meditação é atingir o centro da roda onde há quietude.

Jonh Main disse um dia: “Não pretendo afirmar que a meditação seja a única forma de atingir o centro, o encontro profundo consigo mesmo e com Deus… mas afirmo que essa é a única maneira que encontrei.
Mas como chegar a esta quietude? A resposta parece fácil: Mantendo-nos silenciosos, quietos e simples.
De uma maneira geral, apetece-nos muitas vezes estar em silêncio, até para combater o barulho que nos rodeia constantemente.
Jonh Main diz que aprender a estar em silêncio nos períodos de meditação ensina-nos a rezar em todos os momentos e que em silêncio aprendemos a linguagem universal do Espírito.
O mestre Eckart, 1260-1320, dizia que não havia nada que melhor se parecesse com Deus, como o silêncio.
O silêncio na oração, como entre duas pessoas é um sinal de confiança e de aceitação.

Quanto ao estar quieto, não significa ficar inerte, e como diz o Father Laurence:” Conhecer Deus equivale a estar plenamente vivo e atento”.

Quando tentamos fazer a meditação se as costas não estiverem direitas, sem querer abandonamo-nos e num instante, deixamos de estar alerta e caímos numa modorra que nos leva quase a adormecer. Assim, uma boa postura é muito importante.

O estar imóvel, ajuda-nos a tomar consciência de que o nosso corpo é sagrado “Templo do Espírito Santo”. No entanto a outra dimensão da quietude,”stilness”, é interior. E este é o grande desafio deste tipo de oração, pois é difícil lidar com a nossa constante actividade mental.

Os Budistas afirmam, que se efectuam 151 operações mentais em simultâneo, desejos, sonhos, projectos, esperanças, podem dominar o nosso espírito.

O salmo 46 diz: “Ficai calmos e sabei que eu sou Deus”

Por fim, a simplicidade


Todos gostaríamos de ser simples mas não é fácil. Estamos constantemente a analisar os nossos sentimentos, motivações, os outros, e isso torna-nos muito complicados.

Mas, Deus é simples. O amor é simples, a meditação é simples. Ser simples significa ser autêntico, ou seja ir para além da consciência de si próprio e da auto-análise.

Esta oração conduz-nos ao silêncio, à quietude e à simplicidade por um processo silencioso e simples. Este processo é a repetição de uma palavra sagrada ao longo do tempo da meditação. Essa palavra como todos já sabemos chama-se “mantra”. Recordo que esta forma antiga de oração cristã foi redescoberta pelo monge beneditino John Main para cristãos dos tempos modernos e ensinou-nos que para meditar devemos:

- Sentarmo-nos e permanecermos quietos, de costas bem direitas.
- Fechar os olhos.
- Repetir o “mantra” interiormente e de forma contínua.
Esta invocação, é em primeiro lugar uma maneira de nos abrirmos à presença misteriosa de Cristo no nosso intimo segundo a sua palavra:”O reino de Deus está dentro de vós” Luc.17,21. Convém que o mantra que escolhermos seja sempre o mesmo afim de que se possa enraizar no nosso coração. Esta fidelidade desperta o sentido da oração contínua seja quais forem as nossas actividades, quando andamos na rua, estamos no dentista, ou no duche, o mantra pode surgir silencioso, natural, afim de que ao dirigir a nossa consciência para Deus, vivamos na sua presença e sejamos como Ele.
Deve-se escolher um lugar calmo, um momento de tranquilidade de manhã e à noite e meditar aproximadamente, 20 a 30 minutos de cada vez.

Um “mantra” ideal é “maranatha”, que significa em aramaico, que era a língua de Jesus, “. Vem Senhor”. Mas ao dizê-la, ao repeti-la, não devemos pensar no seu significado. Devemos dizê-la pausadamente apoiando cada uma das sílabas, sem nada esperar. E quando surge uma distracção retomá-la calmamente.
Para os Padres do Deserto e João Cassiano, a invocação do mantra, não é uma técnica mas uma disciplina que conduz à pobreza espiritual de que fala o Envagelho , ou seja o abandono de todas as riquezas do pensamento e da imaginação

Não devemos fazer pedidos nem criar qualquer expectativa.
Não devemos avaliar a nossa meditação,
Mas integrá-la na nossa vida e viver cada dia as suas consequências.

A este respeito vou citar uma curiosidade quase histórica. Um enxerto de uma carta de1982 de John Main à Teresa Rocha aqui
presente.
A Teresa numa carta anterior ter-lhe-ia dito que tinha escolhido como mantra, “creio em ti, mas aumenta a minha fé. E John Main
Responde-lhe: “Quanto ao mantra aconselho uma frase ou palavra que não se refira a si própria. Geralmente, as palavras, eu meu, minha, nunca deveriam aparecer no nosso tempo de oração. O nosso objectivo é perder-mo-nos em Cristo para podermos dizer como S. Paulo. “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” .Esta é a razão porque sugiro “Maranatha”,”Jesus” ou “Abba”, ou “Pai”ou qualquer outra palavra não centrada em nós próprios.”

Para acabar não queria deixar de comentar convosco as inúmeras vezes que sou abordada sobre o interesse da oração. Para quê rezar? A este propósito vou contar uma história que li num dos livros sobre meditação cristã a que achei muita graça. Um jovem perguntou a um mestre de oração cristã, para que servia a oração…
O mestre respondeu: “para experimentar Deus.” E que é isso de experimentar Deus?” retorquiu o jovem. O mestre respondeu: “experimentar Deus é cheirar a Deus”. –“ Cheirar a Deus?... isso é muito estranho… percebo cada vez menos…”
Então o mestre contou uma parábola: “Um dia Deus aproximou-se de uma pessoa e deu-lhe um pequeno recipiente. de vidro contendo a sua divindade A pessoa nem queria acreditar… tinha nas suas mãos o próprio Deus! Correu para casa, pegou num colar de oiro muito valioso e pendurou nele o recipiente sagrado .Podia andar com Deus ao pescoço por todo o lado. Deus repetiu o gesto com outra pessoa. Ela também extasiada, correu para casa preparou um altar lindo revestido de pedras preciosas, acendeu velas e incenso para que o recipiente que continha o próprio Deus pudesse ser adorado.
Uma terceira pessoa teve igual presente de Deus. Cheia de curiosidade correu para um laboratório e fez todos os testes possíveis ao recipiente de vidro que continha o próprio Deus. Uma quarta pessoa foi ainda presenteada por Deus com igual recipiente. Ficou fascinada pelo mistério que estava tocando… mas, de imediato, abriu o recipiente, derramou-o na sua cabeça, respirou fundo, sentiu o cheiro maravilhoso do perfume que tinha derramado sobre ele, e saiu espalhando aquele perfume por onde passava.

É para isso a oração: Para respirar o mistério de Deus saborear a sua presença… e sair por aí espalhando o cheiro de Deus na vida das pessoas.


Obrigado pela vossa atenção.

24.3.07





Bibliografia –A Meditação Cristã A nossa oração quotidiana

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei ... principalmente a ideia de que Deus é para ser desfrutado e dado a Conhecer como sendo a Vida em nós.

7:51 da tarde

 

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