A BELEZA DA ORAÇÃO CONSISTE NO FACTO DE QUE O ABRIR DO NOSSO CORAÇÃO É TÃO NATURAL COMO O DESABROCHAR DE UMA FLOR. PARA QUE UMA FLOR ABRA E FLORESÇA BASTA ESPERAR; PORTANTO, SE ESPERARMOS, SE NOS AQUIETARMOS E ASSIM PERMANECERMOS QUIETOS E SILENCIOSOS, O NOSSO CORAÇÃO ESTARÁ INEVITAVELMENTE ABERTO E O ESPÍRITO BROTARÁ DENTRO DO NOSSO SER. FOI PARA ESTE FIM QUE FOMOS CRIADOS. JONH MAIN, OSB (1926-1982)

sexta-feira, setembro 14, 2007

BEDE GRIFFITHS OSB

Bede Griffiths foi um monge beneditino , nascido em Inglaterra e educado em Oxford. Depois de 20 anos como monge em Inglaterra foi para a Índia para encontrar “ a outra metade da sua alma”. Estas conversas exploram a tradição da Meditação Cristã e relacionam-na com as grandes tradições orientais. Frei Bede mostra como a viagem interior pode contribuir para a unidade espiritual. Morreu na Índia em 1993.






A Oração para além das palavras ou do pensamento


O método de oração que o Padre John descobriu foi o de Cassiano e dos padres do Deserto do séc. 4.


Cassiano era um monge oriundo do que é agora a Jugoslávia e viajou para visitar os monges do Deserto no Egipto. No séc. 4 o Egipto estava cheio de monges cristãos que tinham abandonado o mundo do império Romano para procurar Deus na solidão do deserto. Cassiano entrevistou estes monges e escreveu as suas conferências descrevendo o seu modo de vida e sobretudo o seu modo de orar. As duas conferências do abade Isaac sobre a oração são um ensinamento clássico e abrangente do tema Meditação. A regra de S. Bento retira os seus ensinamentos sobre a oração de Cassiano e dos padres do Deserto. Esta oração, a que chamaram “oração pura”, sem palavras nem pensamentos, é o segredo da oração que o padre John descobriu.


Para muitas pessoas isto é um grande problema, porque quando pensamos em oração pensamos em palavras e pensamentos – nós dizemos o “Pai Nosso”, nós pensamos sobre Deus. Tudo isto é necessário para começar, mas a oração tem que levar para além das palavras e para além dos pensamentos. A meditação vai para além das palavras e pensamentos, o que Evagrius, um dos grandes monges do deserto, chamou “oração pura”. S. Bento menciona pureza do coração como a qualidade da oração e é isto que todos buscamos – a oração pura. O padre John recuperou-a para nós.


Eu próprio vivi num mosteiro Beneditino durante 20 anos e nunca a descobri. Costumávamos meditar durante meia hora depois das Vésperas mas ninguém nos dava instruções ou nos guiava nela. É isto que as pessoas procuram hoje.


Eu devo mencionar aquele livro maravilhoso “The way of a Pilgrim” sobre o peregrino russo que atravessou toda a Rússia dizendo a oração de Jesus, “ Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Ele tinha lido no Novo Testamento para “rezar sem cessar” e foi a todos os conventos perguntando, “como é que eu posso rezar sem cessar?”
Então, um velho, ensinou-lhe a oração de Jesus para ser dita milhares de vezes. Ele atravessou a Rússia inteira dizendo a oração dia e noite e toda a sua vida se transformou. Ele irradiava Cristo. Interessante que o velho sistema comunista vai caindo e na Rússia hoje as pessoas começam a redescobrir a sua alma. No séc. 19 a Rússia era a “Rússia sagrada”, as pessoas deambulavam por mosteiros e catedrais procurando Deus e revelando Deus. Hoje está a voltar outra vez, e isto é o que as pessoas procuram pelo mundo inteiro.


Estamos mais habituados a rezar com palavras e conceitos e claro que eles são necessários para começar. Uma via tradicional da oração monástica é a lectio divina, a leitura meditativa da Bíblia. É uma prática excelente mais não vai além da oração discursiva. Vamos de pensamento em pensamento. Ajuda, conduz-nos mas não nos leva ao fim. Ainda não é propriamente oração contemplativa.


A oração contemplativa começa quando todo o pensamento discursivo acaba, quando a mente descansa em silêncio na presença de Deus. A contemplação é a prática da presença de Deus. O padre John descobriu o mantra, a repetição de uma palavra sagrada como caminho para a oração contemplativa. O mantra é o modo de entrar nesse silêncio e na presença de Deus.


Precisamos de pensar em nós sempre como um todo integrado de corpo, alma e espírito. Infelizmente habituámo-nos a pensar no ser humano como um animal racional de corpo e alma. Isto está certo até onde vai, mas não contempla a dimensão mais profunda do nosso ser. S. Paulo e a Igreja primitiva sempre pensaram o ser humano como corpo, alma e espírito. Quando rezamos, quando meditamos, não o fazemos apenas na mente. É perigoso, particularmente no Ocidente, porque nós educámos tanto a nossa mente, que toda a religião está na cabeça. A meditação devia ser um meio de a trazer da cabeça para o coração. Os padres do Deserto costumavam dizer “guiem os pensamentos da cabeça para o coração e mantenham-nos lá”. O coração é o centro onde a cabeça se liga com o resto do corpo. A meditação leva-nos da cabeça para o coração e para todo o nosso ser corporal.


Temos que Meditar com todo o nosso ser. Esse é o aprofundar da harmonia total do coração e da mente, da alma e do corpo.